Considerado uma das atrações mais emblemáticas da Serra Gaúcha, o passeio de Trem Maria Fumaça é, também, um retorno ao passado e uma chance de vivenciar um pouco da grande influência italiana na região.
Também conhecido como Trem do Vinho, este passeio turístico entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa é uma grande imersão cultural no estilo de vida e nas tradições dos imigrantes italianos que povoaram esta região do Rio Grande do Sul.
Minha história com o Trem Maria Fumaça é antiga. Começou na década de 1990, quando estive na Serra Gaúcha pela primeira vez.
De lá pra cá, voltei algumas vezes à região e, recentemente, resolvi fazer o tour mais uma vez. A essência do passeio é a mesma, mas hoje em dia está muito mais organizado e com uma atração extra: a Epopeia Italiana.
Trem Maria Fumaça: como tudo começou?
A via férrea que hoje é usada, exclusivamente, com fins turísticos já teve uma importância logística fundamental na região da Serra Gaúcha.
Afinal, era esta malha ferroviária que facilitava o transporte da produção de vinho e demais produtos locais no início do século XX.
Imagino a alegria dos produtores da região quando esta rota entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa foi entregue.
Principalmente, porque sua construção começou no ano de 1909 e só foi concluída em 1919. Uma longa espera, de fato.
Durante décadas esta via ferroviária garantiu o transporte de produtos e pessoas. Para você ter uma ideia, ela só deixou de funcionar para transporte regular de pessoas em 1970. E ainda garantiu o transporte de cargas até metade dos anos 1990.
Foi somente a partir de 1992 que a empresa Giordani Turismo assumiu a rota para fins turísticos, ficando responsável, desde então, por sua administração e manutenção.
Por que o trem é chamado de Maria Fumaça?
O termo Maria Fumaça é o nome que ficou popularizado para a locomotiva a vapor, uma inovação que surgiu na Inglaterra a partir de 1825.
Tal meio de transporte marcou, profundamente, o período da Revolução Industrial e mudou drasticamente o transporte de pessoas e produtos.
Existem poucos exemplares destas locomotivas em todo o mundo e somente três em Bento Gonçalves: uma fica exposta na estação férrea e as outras duas são usadas no passeio turístico.
O mais interessante, do ponto de vista técnico, é que as locomotivas são operadas exatamente como no início do século passado: são acesas com lenha e, durante o trajeto, o fogo é alimentado por briquete (serragem compactada).
Entretanto, o diferencial é que – hoje em dia – a Giordani Turismo opera de uma forma sustentável, utilizando água proveniente de captação de água das chuvas.
Aproveite para conferir o post sobre o Mundo a Vapor, um lindo parque temático localizado em Canela e que tem uma locomotiva “pendurada” em sua fachada.
O que esperar do passeio de Trem Maria Fumaça?
Como eu citei no início do post, o passeio de Trem Maria Fumaça é um resgate cultural da imigração italiana na região.
Então, você pode esperar muita cantoria, alegria, risadas e vinho. É bem verdade que este último item só vai ser em pequena quantidade. Afinal, o que acontece durante o tour é apenas degustação.
O percurso do Trem Maria Fumaça é sempre o mesmo e abrange as cidades de Bento Gonçalves, Carlos Barbosa e Garibaldi.
Assim, o que varia é apenas a direção: você pode começá-lo em Bento Gonçalves ou em Carlos Barbosa, sempre com uma parada em Garibaldi.
A rota turística, apesar de curta (tem 23 quilômetros), demora cerca de 1 hora e 30 minutos para ser percorrida, pois a composição viaja a uma velocidade de 20 a 30 quilômetros por hora.
Além disso, há uma parada de cerca de 15 minutos na estação de Garibaldi para que você possa apreciar um bom show de música e degustar um espumante. Afinal, a cidade é considerada a Capital Brasileira do Espumante.
Entrando no clima do Trem do Vinho
Independentemente da estação em que você vá embarcar, sua experiência no Trem Maria Fumaça começará com música e vinho.
Não se preocupe, contudo, se vinho não for sua preferência, pois haverá a opção de suco de uva.
Assim, devidamente aclimatados, é só esperar a hora de embarcar. Não jogue sua taça fora, pois você precisará dela de novo ?…
Durante o trajeto, haverá apresentações artísticas, que incluem uma dupla de sanfoneiros, um casal de atores e apresentação de um coral. Tudo muito típico e divertido!
Importante ressaltar, entretanto, que a paisagem do trajeto não tem nada de muito especial. Contudo, o entretenimento durante o percurso faz com que a gente se esqueça de olhar pra fora em determinados momentos.
A parada na estação de Garibaldi
A breve parada do Trem Maria Fumaça na estação de Garibaldi é a chance para tirar uma foto da locomotiva e de tomar um espumante Moscatel da Vinícola Garibaldi, ganhador de várias medalhas em concursos pelo mundo.
Honestamente, eu não gosto de vinhos suaves, preferindo sempre os vinhos secos e os espumantes Brut, mas foi uma boa degustação.
Em contrapartida, conseguir uma boa foto com a locomotiva é uma experiência amarga, já que o tempo é curto e todos querem a selfie perfeita!
O desembarque na estação de Carlos Barbosa
Se você tiver embarcado na estação de Bento Gonçalves, o final do seu passeio será na estação de Carlos Barbosa.
Ali, haverá um ônibus (incluído no valor do ingresso) para lhe levar de volta ao seu ponto de embarque.
O final do passeio é uma “volta à realidade”, pois os funcionários da empresa organizam o transporte de maneira a devolver todo mundo de volta ao ponto de origem.
Alternativamente, você pode resolver estender sua permanência na pequena cidade e voltar por sua conta a Bento Gonçalves.
Entretanto, tirando a imensa loja da Tramontina (que é até bem interessante!), não há muito o que fazer por lá. Além disso, você terá que dar um jeito de voltar por sua conta para Bento Gonçalves.
O melhor mesmo é aproveitar o transporte e já voltar para Bento, que tem muitas atrações para você desfrutar. O trajeto de ônibus é bem mais rápido, durando apenas 30 minutos.
Parque Cultural Epopeia Italiana
O Parque Cultural Epopeia Italiana é uma atração que complementa a experiência do Trem Maria Fumaça e que está incluído no valor do ingresso.
Trata-se de uma apresentação teatral que conta a história de Lázaro e Rosa um casa de imigrantes italianos que chega ao Brasil no final do século XIX.
A Epopeia Italiana é uma encenação interativa, que conta as dificuldades e os desafios, comuns a tantos outros imigrantes, até conseguir concretizar o sonho de uma vida melhor no nosso país.
Durante a história, a plateia se desloca ao longo dos nove cenários, construídos exclusivamente para o espetáculo.
Não é um espetáculo surpreendente, mas os cenários são bem arrumadinhos e a temática é interessante. Além disso, é uma forma de prolongar o
O enorme galpão de 2.000 metros quadrados que abriga o parque encontra-se junto à estação de Maria Fumaça de Bento Gonçalves e você pode visitá-lo no mesmo dia do seu passeio de trem.
Como planejar seu passeio no Trem Maria Fumaça?
Planejar seu passeio no Trem Maria Fumaça vai depender de vários fatores mas, especialmente, de seu local de hospedagem e do seu meio de transporte.
Primeiramente, é preciso esclarecer que – apesar de ser uma das atrações mais procuradas por quem visita Gramado e Canela, as duas estações ferroviárias onde você pode começar o passeio ficam a cerca de duas horas de distância, pois a estrada que separa as regiões é serrana (bem cheia de curvas e morosa).
Então, se você não estiver na região do Vale dos Vinhedos, perderá um bom tempo do seu dia nos percursos de ida e volta.
Se você já estiver em Bento Gonçalves, a experiência completa durará cerca de 3 horas, entre a jornada no Trem Maria Fumaça, o deslocamento de volta e o espetáculo Epopeia Italiana.
Entretanto, se você estiver em Gramado ou Canela, acabará sendo um passeio de cerca de 12 horas, começando bem cedo e com retorno previsto só para o fim do dia.
O que é melhor: fazer o passeio de Trem Maria Fumaça por conta própria ou em um tour completo?
Naturalmente, que a escolha do tipo de passeio vai depender do seu estilo e da sua disponibilidade.
Eu já vivi as duas experiências: participar de um tour “pacote completo”, com direito a almoço e parada na loja da Tramontina e, também, já fiz o passeio por conta própria. Ambos tem suas vantagens e desvantagens.
Se você não estiver com um carro próprio ou alugado, talvez a melhor opção seja participar de uma excursão. Entretanto, você não poderá decidir sobre horários e outras atividades que possam estar incluídas no valor do seu pacote.
Além disso, o custo vai ser bem maior do que se você for por conta própria. Por outro lado, você não vai ter que se preocupar com nada, pois tudo será organizado para você.
Indo por conta própria, você poderá combinar o passeio de Trem Maria Fumaça, com uma visita a uma vinícola em Bento Gonçalves, por exemplo.
Há várias opções maravilhosas na região, entre elas a Vinícola Miolo e a Casa Valduga, bem fáceis de acessar e que não exigem agendamento prévio.
Informações práticas para organizar o passeio de Trem Maria Fumaça
Por se tratar de uma atração muito procurada pelos turistas, o mais seguro é comprar os ingressos para o Trem Maria Fumaça antecipadamente, através de um website de turismo.
Compra antecipada de ingressos
Várias empresas oferecem os ingressos, que podem ser retirados diretamente na estação no dia do passeio, mediante a apresentação do e-mail e de um documento de identificação.
Os preços dos ingressos são tabelados e variam de acordo com a época do ano. Na baixa temporada, custam a partir de R$119,00 e na alta temporada, a partir de R$168,00 (valores de 2020).
Importante ressaltar, também, que esses são valores para a compra antecipada. Se você arriscar comprar na estação (e ainda tiver ingressos sobrando!) vai pagar mais caro.
Honestamente, acho uma atração bem salgada! Principalmente, porque não há desconto para estudantes ou idosos.
Além disso, apenas crianças até 5 anos (sentadas no colo) têm direito à gratuidade. De modo que acaba sendo um passeio caro para quem está com família grande.
Mas, é uma coisa que se faz uma vez na vida e que pode ser parcelada em várias vezes no cartão de crédito.
Embarque e desembarque
Você pode optar por embarcar no Trem Maria Fumaça em Bento Gonçalves ou em Carlos Barbosa, já que o percurso é sempre o mesmo e o passeio apenas em um sentido.
Da mesma forma, o deslocamento de ida ou de volta será feito em ônibus fornecido pela empresa.
É possível deixar o carro no estacionamento gratuito da estação de Bento Gonçalves e embarcar no Trem Maria Fumaça em direção a Carlos Barbosa ou pegar o transfer que lhe deixará na estação de Carlos Barbosa, fazendo o passeio no sentido inverso.
Pode até parecer meio confuso explicando assim, mas os funcionários da atração são bem solícitos e organizam direitinho o passeio, de modo que ninguém fica perdido.
O importante é chegar com uma certa antecedência, para poder tirar umas fotos e degustar um vinho antes de embarcar. Eu aconselho a chegar cerca de 30 minutos antes do horário previsto para a partida.
Frequência e horários
Os passeios de Trem Maria Fumaça, normalmente, acontecem às quartas, sextas, sábados e domingos.
Entretanto, tudo vai depender da época do ano. É possível haver saídas diárias durante a alta temporada e apenas uma saída ou duas por semana na baixa temporada. De modo que o mais seguro é consultar o site da Giordani Turismo para conferir a disponibilidade do passeio.
Com relação aos horários, há saídas às 9:00, às 11:00 às 14:00 e às 16:00.
Vagão especial
Os bilhetes para o Trem Maria Fumaça já vêm com os lugares marcados, mas depois que a locomotiva começa a se deslocar, você pode mudar de lugar, de acordo com a disponibilidade de assentos.
Se você der sorte, poderá embarcar no vagão de número 215, o único da locomotiva a conservar os bancos originais de madeira.
Trem Maria Fumaça: a minha experiência
Gostei muito de ter revivido a experiência de passear no Trem Maria Fumaça, pois é o tipo de atração que me encanta. Acho incrível a possibilidade de fazer uma viagem no tempo!
No meu caso, foi uma “dupla viagem”, pois a primeira vez havia acontecido quando eu era jovem (nos idos dos meus saudosos vinte e poucos anos e ainda no século XX!) e há pouco tempo, já no século XXI e prestes a completar meus 50 anos.
É muita história pra contar né? E, assim, sigo trilhando pelas estradas da vida! Acompanhe, também, estas minhas outras experiências na região:
- Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves
- Principais atrações e vinícolas do Vale dos Vinhedos
- Minicurso de degustação da Vinícola Miolo
- Vinícola Chandon em Garibaldi
- Vinícola Salton em Garibaldi
- Cervejaria Leopoldina em Garibaldi
- Cantina Strapazzon nos Caminhos de Pedra
- Vinícola Cave de Pedra no Vale dos Vinhedos
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