Será que você já tomou um pileque de jenever? Ou de seu similar? Depois de ler este post, nunca mais você vai tomar um drink feito com Gim sem se lembrar da Holanda. E eu vou lhe contar o porquê: Gin, Jenever, Genever, Genièvre, Ginebra, Genebra, Gim… São tantos os nomes que um leigo, como eu, trocaria simplesmente por um: gin ou gim (em Português). Porém as diferenças são muitas! E eu vou lhe contar a história toda!
Aulinha de História para ébrios de plantão!
Todo mundo que se imagina tomando um Gim-tônica num bom pub inglês, deve pensar que a bebida foi inventada por eles, mas a história deste líquido forte e destilado é bem mais antiga.
Calma aí… vou explicar essa bagunça! O gim é super popular, sim.
Porém, essa bebida destilada à base de cereais, nada mais é do que uma variação (ou seria uma evolução?) de uma bebida holandesa tradicional muito mais antiga.
Aliás, daqui em diante, vou me referir ao termo apenas como “gin”, pois apesar de não ser a grafia portuguesa da bebida, é assim que lemos em todos os lugares.
Pois bem, alguns atribuem a invenção da versão holandesa a um químico, acadêmico e pesquisador da Universidade de Leiden, que viveu no século XVII e que teria elaborado a bebida para fins medicinais. Porém, pesquisas apontam indícios de menções ao Jenever muito antes de o camarada nascer.
Fato é: a grande exportação de Jenever para a Inglaterra, começou no século XVIII, graças à Mary Stuart. Ela era esposa do rei Willem III e uma grande admiradora da bebida, que era denominada “Geneva” (Genever) e que ficou popularizada como “gin” pelos londrinos.
No século XIX, a bebida já era super popular nas terras britânicas. Entretanto, por causa do embargo econômico imposto à Inglaterra por Napoleão Bonaparte, os ingleses tiveram que começar a fabricar, eles mesmos, algo similar.
Mas, afinal, jenever e gin são a mesma coisa?
Aqui entra uma observação: o jenever (assim como o gin) é uma bebida destilada à base de cereais, mas que conta com adição de especiarias e, também, de um fruto chamado zimbro (quase nada conhecido no Brasil, mas muito parecido com o mirtilo).
Este fruto, conhecido como juniper berry (Inglês) ou jeneverbes (Holandês) é um ingrediente comum a todos os tipos de gin ou jenever.
Hoje em dia, essas classificações têm ficado cada vez mais difíceis de definir, pois há marcas de jenever que se anunciam como gin e vice-versa.
O que eles têm em comum é a presença do zimbro. O que eles têm de diferença fundamental? Só os que são produzidos na Holanda ou na Bélgica podem, de acordo com as regras da União Europeia, ser chamados de jenever.
E, logicamente, que cada marca existente no mercado imprime seu toque pessoal. Isso a partir das combinações e proporções de diversas especiarias adicionadas durante o processo de fabricação.
Quais as melhores cidades para tomar um jenever na Holanda?
Além de Amsterdã, a mais badalada e procurada pelos turistas, quatro outras cidades também entram com destaque para o circuito. São elas: Schiedam, Delft, Dordrecht e Groningen (onde morei por três anos).
Em Amsterdã, as duas destilarias mais conhecidas são Van Wees e Wynand Fockink. Cuidado ao pronunciar esta última quando estiver por aqui… Hahaha! Há ainda a opção de conhecer a House of Bols, para uma experiência mais completa.
Em Dordrecht e Groningen são fabricados, respectivamente, as marcas Rutte e Hooghoudt. E as duas cidades têm outras opções de lazer além da degustação do jenever, como já mostrei em outros posts.
Se você ainda não teve a chance de ler, conheça aqui as dicas de uma local em Groningen e o Mercado de Natal em Dordrecht.
Aproveite que o fim de ano está pintando por aí e já planeje um combo etílico-cultural!
Delft é uma gracinha de cidade e vale qualquer visita, seja para tomar um jenever, seja para uma loira gelada acompanhada de um bom galeto. Para isso, recomendo a Bier Fabriek.
Se não quiser enfiar o pé na jaca, pode fazer um passeio de cara limpa, mesmo. Vai ser gostoso do mesmo jeito. Aliás, uma tarde de outono em Delft é inesquecível, como já contei em outro post.
Bem, deixei para falar de Schiedam por último, porque foi lá que tive a experiência completa do jenever… hehehe!
Queria passar uma tarde de outono ensolarada bem legal com o meu marido e tive a ideia de chamá-lo para conhecer a cidade.
Ele me perguntou o que teria para fazer por lá e quando disse que havia um museu dedicado ao jenever, ele topou na hora!
Vamos tomar um pileque de Jenever em Schiedam!
Beleza: o trem da estação central de Haia para a estação central de Schiedam leva cerca de 20 minutos. E leva mais uns 15 minutos para chegar até o museu.
Fácil de achar. Fica bem no miolinho da cidade. Mas, pode esquecer a pressa. Você vai levar mais de uma hora para percorrer esse pequeno percurso, com certeza!
Primeiro, porque há dois moinhos pelo caminho. Quer dizer, não são beeem no caminho, mas você vai avistá-los (não muito) de longe e vai querer ir até lá pra conferir de perto.
Um deles pode ser visitado por dentro. O outro, fica à beira de um lindo canal e funciona como uma loja que vende produtos diversos.
Segundo porque o caminho é todo cheio de lugares e imagens imperdíveis. Saca só a biblioteca… Preciso dizer mais?!
Isso sem contar as imagens tipicamente holandesas…
O museu do jenever
É um local bem bonitinho, que conta um pouco da História da bebida. Além disso, há instalações com os ingredientes utilizados no processo de fabricação e muitos outros apetrechos. Não espere uma imersão quase que completa, como acontece no Heineken Experience.
É um museu muito mais simples e quase nada interativo, mas é bem arrumadinho e interessante de conhecer.
Informações atuais sobre o museu você poderá encontrar no site oficial
São 3 andares de exposição, apesar de o acervo não ser tão grande. O mais interessante, para mim, foi uma sala com miniaturas de bebidas de todo o mundo. Achei muito legal!
Para nossa decepção, não havia degustação no final da visita, como estávamos esperando. Porém, uma senhora muito simpática que trabalhava lá nos deu a dica de um lugar onde poderíamos encontrar mais de 400 tipos de jenever, bem ali pertinho. E lógico que fomos lá conferir.
Onde tomar um pileque de jenever em Schiedam?
Saiba tudo sobre o lugar no site oficial: Café – Jeneverie ‘t Spul
Para nossa alegria, o local estava quase vazio. Só havia os donos e dois frequentadores, que pareciam muito mais amigos do que clientes. Já chegamos explicando que queríamos conhecer os quatro tipos de jenever de que havíamos tomado conhecimento no museu.
A dona, muito surpresa, perguntou: “mas vocês vão querer um pouquinho só para experimentar ou todos os quatro, mesmo???”
Demos risada e explicamos: “Não, pode ser a dose normal. Nós vamos tomar juntos…” Nessa hora, ela fez aquela cara de “ah, tá…” e aí começou a nossa brincadeira! Ela nos serviu, toda solícita e, gentilmente, enfileirou as quatro garrafas na nossa mesa. Uma de cada tipo do que havíamos pedido. Trouxe, também, uma cestinha com biscoitinhos do tipo Cream Cracker e água. Tudo parte do processo para saborear o jenever na totalidade.
Bem, antes do primeiro trago, tivemos uma bela aula cortesia do proprietário do lugar, o Robert. Ele, um holandês muito simpático, fez questão de explicar como apreciar a bebida.
O lugar oferece um sistema de proeverij. Você pode marcar para ir com amigos e família, por exemplo. Nós demos sorte: só pagamos pelo que consumimos e tivemos a experiência completa!
Um museu dentro de um café?
Ficamos por lá mais de uma hora e, ao final da visita, ele ainda nos levou para conhecer seu museu particular.
Uma graça: localizado em uma parte mais reservada do estabelecimento. Detalhe: só contei no final que era blogueira e que escreveria sobre o lugar, o que demonstra que a gentileza dos donos do estabelecimento é genuína.
Nossa, ficamos encantados com o acervo que ele foi construindo ao longo de mais de 25 anos e a paixão com que ele relatava os detalhes de suas aquisições. Foi uma experiência muito interessante e que eu recomendo. Foi a complementação perfeita para a visita ao museu que, aliás, é grátis para quem tem o museumkaart.
Quanto à experiência na Jeneverie, o preço foi bem acessível: 29 euros por 5 doses de jenever, uma taça de vinho e uma porção de bitterballen. Um das comidas de boteco tipicamente holandesas!). Saímos de lá in-tei-ros, para quem estiver achando que foi jenever demais… Hahaha!
Bem, o problema desse tipo de passeio é o efeito colateral. Calma, não tô dizendo que ficamos de ressaca no dia seguinte. Agora, estamos querendo conferir o jenever das outras cidades. Próxima parada: House of Bols em Amsterdã. Bora lá???
E se for beber… Go Dutch Style!
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