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A viagem que exigiu mais sangue-frio e mente leve que já fiz na minha vida aconteceu em 1998. Não deu um frio na barriga porque eu fui sozinha. Não deu um medo danado porque foi a minha primeira viagem internacional.

Não deu um cagaço supremo pelo medo de me perder ou de não conseguir me comunicar em uma língua que eu não dominava.

O meu coração ficou apertado porque eu deixei em casa os bens mais preciosos que eu tinha: um bebê de oito meses, um pimpolho de dois anos e um marido bonitão de trinta!

​De duas uma: ou você está pensando que eu sou “uma louca desvairada, mãe desnaturada” ou “Uau, eu faria tudo igual”! Bem, espero que você tenha ficado com a segunda opção… hehehe!

Acho que tudo na vida exige coragem. Quando você decide realizar um sonho, sempre tem alguém pra mostrar o lado sombrio, colocar empecilhos, tentar fazer você mudar de ideia. Resumindo: tocar o terror! Porém, meu marido estava de acordo; eu contava com mãe, irmã e uma ajudante para me resguardar na tarefa. Por que não ir?

Tudo bem, eu não vou dizer que o sentimento de culpa e o remorso não me acompanharam por grande parte do caminho; que a saudade não bateu forte nas noites em que dormi totalmente sozinha pela primeira vez na vida; que eu não perdi o sono inúmeras vezes pensando nos tesouros que eu havia deixado em casa; que as lágrimas não vieram aos montes quando soube que meu banguelinha iria me aguardar com seus dois primeiros dentinhos…

E tudo isso sem Skype, WhatsApp, Facetime. Sem Internet at all: não existia.

Bem, mas não foram ​“Sete anos no Tibet”… Foram só pouco mais de duas semanas em Nova Iorque… Hahaha!

E posso te dizer com toda a franqueza? Realizei meu sonho de menina (viver num campus de uma universidade americana) mesmo que por um curtíssimo período e ainda que para isso tivesse que estar quase na casa dos trinta. Até hoje tenho a nostalgia e a sensação de que foi a melhor viagem da minha vida.

Marymount College em Tarrytown

De todas as coisas maravilhosas que conquistei nesta viagem específica, a mais marcante de todas foi a de que é possível atingir uma meta. Na época, eu trabalhava muito, ganhava pouco, tinha mil compromissos e razões para não ir, mas resolvi puxar o freio de mão e, apesar de meus múltiplos papéis, cuidar um pouco de mim, a Regina, o indivíduo. Não a mãe, a esposa, a filha, a professora. Só a pessoa, o ser.

E eu acho que foi ali, naquele distante 1998 que eu aprendi que amar verdadeira e infinitamente é deixar o outro ir, torcendo para ele voltar.

Depois disso, tive muitas idas e vindas na vida: em 1999, minha mãe e minha irmã foram morar no Japão. Em 2006, voltaram para o Brasil.

Em outubro de 2008, viemos morar na Holanda. Menos de três meses depois, minha mãe partiu de vez. Episódio mais triste da minha vida…

​Em 2013, reencontrei meu irmão, que o tempo e a vida haviam afastado de mim por treze anos. Vida nada fácil… construída bloco a bloco. Ficou um aprendizado disso tudo: a vida é curta. A vida é incerta. Ponto. Então, sonhe, planeje, concretize. Ouse tentar. Permita-se colocar em prática seus projetos.

Morando no Brasil era difícil colocar em prática este meu lado inquieto, irreverente e curioso. Tudo era distante e caro. Morando aqui na Europa, as coisas ficaram mais fáceis em termos de acessibilidade. Pude colocar em prática vários projetos que andaram engavetados por muitos anos, entre eles, viajar.

Hoje, são quase trinta países e algumas dezenas de cidades percorridos, dois filhos crescidos e independentes, um casamento feliz de vinte e cinco anos, uma mulher apaixonada por quase três décadas. Resumo da ópera: se você ama, deixe ir. Se você se ama, permita-se ir, também. No final da história, todo mundo sai feliz. E isto é a única coisa que importa.

Final da Copa do Mundo – 1998

Meu filho mais velho estuda na Holanda. Meu filho mais novo começou ontem um curso de quatro anos nos Estados Unidos. Meu marido e eu possivelmente estaremos em breve em outro lugar, mas no coração e no pensamento, sempre estaremos juntos e isto é o que conta. A Geografia é circunstancial. O amor não tem fronteiras. Transcende toda e qualquer circunstância.

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Categorias: Américas

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