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Há seis anos morando na Holanda, este será o primeiro Natal fora do Brasil. Nada de Chester, nada de suar em bicas às voltas com os assados para a noite de Natal; nada de filas gigantescas nas compras de última hora no Extra ou nas Lojas Americanas ou, ainda, a cervejinha gelada com os amigos…

Ainda não sei como me sentirei na Noite Feliz: talvez melancólica pela distância, talvez entusiasmada com a lareira acesa e o friozinho lá fora… tudo no momento é suposição. Uma coisa eu tenho como certa: o Natal aqui não tem o mesmo tom, o mesmo frisson do Natal passado aí. Pode ser que seja pela pouca religiosidade, pode ser que seja pela discrição natural do povo, mas o fato é que essa época tão festiva aí no Brasil, passa bem mais modesta aqui.

Não vejo grandes compras de presentes nas lojas, ou embrulhos gigantescos sendo carregados para lá e para cá. Não noto as crianças esperando ansiosamente por aquele presente caro e especial. Afinal, no dia 5 de dezembro todas já ganharam o cadeautje (presentinho) deixado pelo Sinterklaas. E esse é um presentinho mesmo: cabe no sapatinho delas e, normalmente, é algum item simples e de pouco valor.

Tradição é tradição. Cada povo tem a sua e pode considerá-la mais sensata ou ideal que as outras. O fato é que eu acho que às vezes nós, brasileiros, exageramos um pouco nessa época: quantos não se endividam ou comem ou bebem demais, sintetizando um ano inteiro em uma única data? Ou em duas, se considerarmos também o Ano Novo?

Penso que dessa forma, os holandeses talvez trilhem um caminho mais balanceado e não se curvem tanto aos exageros ou as tendências do momento. Pelo que posso observar, eles continuam se comportando mais ou menos como o fizeram durante o ano inteiro: sem grandes extravagâncias, sem grandes ostentações. Confesso que admiro essa capacidade que eles têm de levar uma vida plain (sem altos e baixos).

Por outro lado, sinto que a forma de pensar do brasileiro de “é agora ou nunca” é uma forma de resgatar o que ficou perdido ao longo do ano. Não estou falando de coisas materiais. Ao contrário, falo do resgaste da amizade, da lembrança, do perdão e de todos os sentimentos que fazem com que nós tentemos remediar tudo de ruim que possa ter se desdobrado ao longo do ano e que tentamos resolver antes da virada. Ou mesmo, sem grandes dramas, o reencontro com os amigos ou parentes, com quem não tivemos contato ao longo do anos por conta dos desvios da vida…

Como sempre enfatizo, tudo o que escrevo são as minhas opiniões e impressões. Posso estar cometendo injustiças para os dois lados. No entanto, uma diferença gritante que eu verifico entre meus dois mundos é que, enquanto no Brasil, dezembro tem um clima de fechamento, de término, de balanço do que foi bom ou ruim, certo ou errado… aqui a vida simplesmente continua. Há sim, uma pequena pausa escolar, há sim uma diminuição no ritmo de trabalho nos escritórios… mas de resto, não vejo essa “suspensão” que ocorre no Brasil. E de fato, tudo volta ao normal no dia 26 ou no dia 2 de janeiro: sem grandes ressacas, sem grandes faxinas, sem grandes resoluções.

A discreta decoração natalina na Passage, em Haia

O engraçado é que esse clima de fechamento, que no Brasil ocorre coincidentemente com o fim do ano, acontece aqui em meados de julho. Será o fim do ano letivo o responsável por isso? Será a promessa de dias quentes e ensolarados que chega com o verão? Não sei dizer… só sei que existe!

Mas voltando ao Natal, porém, vejo algum charme em ter ficado por aqui: pela primeira vez comprei uma árvore verdadeira, com raiz e tudo, que meu marido pacientemente ajeitou num vaso para que ela continue firme e forte nos anos vindouros. Achei encantador decorá-la e posicioná-la ao lado da lareira. À noite, acendo minhas velas, ligo as lampadinhas que a contornam e a sala ganha ares de festa.

E eu tenho uma esperança muito grande de que esfrie o suficiente e que todos os elementos se alinhem para que na Noite de Natal tenhamos uma neve fresquinha caindo lá fora enquanto ceamos juntos para celebrar o nascimento do Menino Jesus.
 

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